Trilogia Batman Nolan

Minha intenção com esse artigo não é fazer uma crítica à trilogia Batman de Nolan, e sim uma reverência, pois em 10 anos de minha vida esses filmes povoaram minha imaginação e exercitaram minha curiosidade.
Talvez o modo mais correto de escrever esse artigo seria criticar a forma de abordagem que foi feita pelos diretores anteriores à franquia Nolan ao Batman.
O Batman de Tim Burton de 1989 era um super herói baixinho e destemido, apenas. Suas qualidades se restringiam à inteligência e investigação, o que nublava tudo o que era explícito nas HQs, do Bruce Wayne mestre em diversas artes marciais, um homem perspicaz e que usava sua fortuna à favor de sua busca pessoal (o fim da criminalidade de Gotham).
O segundo Batman de Burton era ainda mais caricato, que lutava contra um homem-pinguim, um assassino frio mas que não botava medo em ninguém além das crianças que, como eu, assistiam o filme.
Não quero me ater a falar da continuação dessa franquia. O que Joel Schumacher se propôs a fazer com Batman (trocando atores, enredos, inserindo vilões caricatos) não vale a pena ser mencionado. O que foi feito depois do segundo Batman de Burton foi apenas uma geléia super heróica de pouquíssima consistência, uma sopa de muitas cores e pouco enredo. Para resumir, os filmes todos, do começo ao fim, eras carros alegóricos com o morcego do Batman na frente. Talvez Schumacher tenha vindo ao Brasil no carnaval e se inspirou aqui na alegorização do seu Batman. Acho que essas linhas bastam para resumir o fracasso a que lhe foi devido.
Foi com esse estigma que Nolan decidiu refazer a franquia. Numa tarde de verão inglês, Christopher Nolan e sua esposa pousaram em Londres para uma conversa prévia com Paul Levitz, produtor chefe da DC Comics no Reino Unido, e não teriam motivos para saírem da reunião mais motivados. Levitz disse: “cada autor ou produtor dá sua própria visão ao Batman nos quadrinhos. Por que isso não pode acontecer no cinema? Estou com vocês, apóio o projeto”. Os dois saíram da pousada de Levitz com as HQs que Levitz achava mais importantes e que poderiam ser transformadas em filmes: Batman ano 01, O longo dia das Bruxas e a Queda do Morcego. A trilogia Nolan estava à caminho!
BATMAN BEGINS
“Aprender a ser um super herói não deve ser fácil”, disse David Goyer durante a pré-produção do roteiro original. “Acrescente essa dificuldade um super herói que não tem super poderes”, disse Nolan. A ideia era jamais fugir do estereótipo de homem comum de Bruce Wayne. E para fazer isso, era “preciso ficar explícito a transformação do homem comum até o homem morcego”, disse Nolan fazendo o gesto da linha do tempo com as mãos, onde a mão esquerda significava o Bruce Wayne órfão cheio de ódio, e a mão direita, vinte centímetros de espaço depois da esquerda representava o Batman que esperançava Gothan.
David Goyer tinha a resposta de como preencher esse espaço: com o vilão mais experiente em lutas que Batman já enfrentou nos quadrinhos. “Quero guardar Bane para o segundo filme”, disse Nolan. “Estou falando de Raas Al Ghul”, disse Goyer, mostrando a HQ com o mestre na arte da espada.
Sim, era perfeito! Raas poderia ensinar Bruce Wayne, esse poderia desconfiar das verdadeiras intenções de Raas e da Liga das Sombras, desertar e ser um vigilante solitário. É óbvio que Raas voltaria para buscar o que acreditava ser dele: a vida de Bruce que ele devolverá, dera sentido, mostrará o caminho. A linha do tempo começava a ser preenchida.
“Só há uma problema”, disse Nolan. “Raas Al Ghul é imortal, eu não quero seres imortais ou com super poderes. Quero um universo humano e verossímil”. David Goyer tinha a solução: “matamos um laranja que finge ser Raas, o verdadeiro Raas volta para vingar a sua morte. Eis um ser imortal!”. Todos riram mas acharam a ideia fantástica. Era hora de dar vida aos personagens.
Ken Watanabe ficou com o papel de Raas falso, Liam Neeson com o de Raas verdadeiro e quase imortal. Christian Bale seria Bruce Wayne/Batman, Gary Oldman seria o Sargento Gordon (o comissário poderia ser sua promoção no filme seguinte), Michael Cane caiu como uma luva no papel do mordomo Alfred e o mesmo para Morgan Freeman como o armeiro Lucius Fox.
O mais importante papel da trama poderia ser o do Batman, mas a importância de Fox em todo o enredo ficaria evidente logo nas primeiras linhas, já que Bruce Wayne mesmo tendo uma inteligência destacada, não poderia sozinho criar todos os apetrechos que o Batman usaria. Nisso entra o personagem de Morgam Freeman. Porém, durante a escrita uma dúvida surgiu: Lucius Fox saberia de imediato que Bruce Wayne, seu patrão, é o Batman? Não, ele descobriria! E resolveria isso em uma única frase: “Sr Wayne, se o Sr não me disser o que está fazendo com todo meu material, quando me perguntarem não precisarei mentir… mas não pense que sou um idiota…”. Ficaria claro que nos cinemas essa frase arrancaria risos da plateia.
Com o enredo pronto chegava a hora das filmagens. Nolan sabia do desastre que tinha sido toda a configuração de imagens de Joel Schumacher e resolveu inovar: o mínimo de luz possível, o mínimo de cor possível. A fixação do Batman pelo preto e pela escuridão. Nenhuma arma, somente as mãos na hora da luta. Muitos machucados. Esse era o novo Batman, o Batman que se inicia!
Escrito por: Glauco de Barros Maciel
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